O bairro de Tancredo Neves, que fica em uma região periférica de Salvador, registrou cinco casos de violência com reféns em oito dias. Os últimos casos foram contabilizados na noite de terça-feira (18), quando duas pessoas foram mantidas em cárcere privado em casas diferentes, ao mesmo tempo.
Tancredo Neves faz parte de uma área histórica onde comunidades negras se abrigaram após a abolição da escravatura. Até então, o bairro era chamado de Beiru: um nome de origem iorubá que faz referência a um dos escravizados libertos que morou na localidade, no século XIX, o africano Gbeiru.
Na década de 1970, houve um processo de urbanização e, atualmente, mais de 50 mil pessoas moram no bairro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o crescimento dessa localidade agravou a situação de pobreza e vulnerabilidade social.
A situação de desamparo transformou Beiru em uma área marcada pela violência. Para tentar mudar o estigma social, o nome do bairro também foi alterado e virou oficialmente Tancredo Neves, em 2017, quando um projeto de lei ampliou de 32 para 163 o número de bairros em Salvador.
O especialista em segurança pública, Luiz Cláudio Lourenço, explica como o ciclo da violência é perpetrado a partir da falta de políticas públicas voltadas para tirar a comunidade da situação de vulnerabilidade social.
“A região de Tancredo Neves, historicamente, vive conflitos em torno da disputa por território e comércio de drogas. Se o estado fomenta essa violência com prática de mais violência, a gente não vai conseguir sair dessa enrascada. É como uma armadilha: a gente entra e não consegue mais sair, se a gente continuar atuando com violência”.
Toda a violência e o clima de insegurança alterou a rotina dos moradores. Sete escolas municipais do bairro tiveram aulas suspensas e os ônibus pararam de circular na região. Nesta quarta-feira, a situação já foi regularizada nos dois tipos de serviço.
Situações com reféns
As situações com reféns registradas no bairro chamaram a atenção desde a última semana, pela constância da prática. De dia 12 a 18 de abril, oito pessoas foram mantidas em cárcere privado, em cinco casos diferentes.
- Caso 1 👇
No dia 12, uma criança de seis anos, uma idosa e dois adultos foram feitos reféns por cerca de sete horas, dentro da própria casa. Quatro homens armados, fugindo da polícia, invadiram o imóvel da família por volta das 11h. Os suspeitos fugiam de policiais militares.
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foi acionado para negociar com os suspeitos e as vítimas foram liberadas por volta das 18h. Todos os suspeitos foram presos e um deles estava solto por causa do benefício de saída temporária da Páscoa.
- Caso 2 👇
Cinco dias depois, na manhã da última segunda-feira (17), um homem armado manteve em cárcere uma adolescente de 16 anos. Esse suspeito foi preso depois de manter a jovem em mais de três horas de cárcere. Segundo a polícia, a garota e ele mantinham um relacionamento há pelo menos dois meses. Ela foi liberada sem ferimentos.
- Caso 3 👇
No mesmo dia, já durante a tarde, dois homens mantiveram um morador refém. A dupla fugia da polícia, quando invadiu o imóvel para se refugiar. A vítima foi liberada após duas horas de negociações. Antes de entrarem na casa do morador, os dois homens estavam na companhia de um terceiro suspeito, que entrou em confronto com policiais e morreu na região da Alvorada.
- Casos 4 e 5 👇
Já na noite de terça-feira (18), dois moradores foram feitos reféns na comunidade da Aldeia. Os casos ocorreram em imóveis diferentes e foram praticados por oito homens, que acabaram presos.
Uma das vítimas foi um jovem de 19 anos. Na casa dele, os suspeitos colocaram um botijão na entrada e ameaçaram atirar no material inflamável para provocar uma explosão. A outra vítima foi uma jovem de 24 anos, grávida de oito meses. Os dois reféns foram liberados sem ferimentos.
Todos os casos são investigados pela Polícia Civil, que informou que não pode dar detalhes sobre investigações em curso. O major da Polícia Militar, Carlos Castro, que comanda as Rondas Especiais (Rondesp), explicou o modo de operação da polícia, a partir do comportamento dos suspeitos.
“Quando chegamos nas localidades, geralmente os surpreendemos para fazer a abordagem. Damos voz de prisão, eles atiram contra nossas equipes e nós revidamos. A tendência deles, a prática, é sempre de correr para se homiziarem. Eles invadem as casas dos moradores e fazem os moradores reféns”, disse.
Fonte G1 Bahia