Camilla Ferraz Barros, ex-gerente de operações do Hospital Mater Dei, em Salvador, investigada por cometer crimes de injúria racial, agressão e ameaça contra duas funcionárias e a gerente de um pet shop localizado no bairro do Imbuí, na capital baiana, se apresentou nesta sexta-feira (10) em uma unidade da Polícia Civil.
Segundo informações da delegada Patrícia Barreto, responsável pelas investigações, Camilla Ferraz Barros preferiu se manter em silêncio durante o depoimento. Ela ficou na unidade por cerca de uma hora e foi liberada.
“Nós estamos em fase de finalização do inquérito, foram ouvidas 18 pessoas, inclusive Camila. Já recolhemos todas as provas digitais do caso e agora estamos aguardando o marido de Camila, que também será ouvido”, disse a delegada Patrícia Barreto.
Suspeita preferiu não se posicionar — Foto: Reprodução/TV Bahia
Na saída da delegacia, a suspeita foi abordada por jornalistas. Com uma jaqueta no rosto, ela apenas chorou e também preferiu não se manifestar.
No entanto, através de um áudio divulgado em um grupo de aplicativo de mensagens formado por funcionários do hospital Mater Dei, Camilla chegou a pedir desculpas pelo crime, antes de ser demitida. [Veja a íntegra do depoimento abaixo]
“Pessoal, boa noite. Eu resolvi mandar esse vídeo para vocês, para poder me explicar primeiro, né? Vocês têm pouco contato comigo e sabem que eu não sou uma pessoa racista, vim de baixo. Sempre tem dois lados da história né? Eu perdi o controle na loja hoje e depois de ter sido agredida fisicamente pela vendedora. Então a única coisa que tinha para não agredir a vendedora era agredir com palavras e eu acabei exagerando. Então assim, me desculpa, né? A quem tem a cor negra, eu só posso pedir desculpas a vocês, né? Eu estou sendo ‘achuncalhada’. O Mater Dei está sendo citado, acredito que a empresa vai está me desligando, mas eu faço questão de pedir desculpas a cada um de vocês, e vocês sabem minha ciência, me conhecem diariamente e sabem que eu não sou essa pessoa. Então só queria me explicar e dizer que antes disso tudo eu fui agredida, fui para o IML e só colocaram a parte que era conveniente na mídia”.
Relembre o caso
Em um vídeo registrado por uma testemunha, é possível ver a cliente assumir para a gerente que estava exaltada e reclamar da forma que foi atendida por uma funcionária. Ela se identificou como juíza e disse que os profissionais “iriam sofrer as consequências”. Na sequência, chamou a gerente de “petista, baixa e preta” e tentou tirar o celular da mão da pessoa que filmava a situação.
Segundo a ocorrência da PC, no dia confusão, Camilla alegou que foi xingada e agredida fisicamente por diversos funcionários e dois seguranças da loja Petz, além de ter sido filmada sem autorização.
Em nota, o Grupo Petz afirmou que repudia veementemente qualquer atitude racista e que acionou o setor jurídico. Além disso, informou que “todas as medidas legais estão sendo tomadas para apoiar as colaboradoras da loja”.
O estabelecimento fica na Avenida Luís Viana Filho, conhecida como Avenida Paralela. Camilla Ferraz Barros foi demitida após o episódio, de acordo com a rede hospitalar. [Veja íntegra da nota emitida pelo Mater Dei no final da reportagem]
Funcionárias denunciam ter sido vítimas de injúria racial e agressão por cliente em pet shop na Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Por meio de nota, a Associação dos Magistrados da Bahia (AMAB) reiterou que a mulher envolvida no ocorrido não integra os quadros da Magistratura estadual.
“A AMAB reitera que tanto a entidade quanto o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA) repudiam veementemente qualquer prática de racismo, conduta inadmissível e configurada como crime, passível de punição nos termos da legislação brasileira. Reforçamos o compromisso da Magistratura baiana com a ética, o respeito à Constituição da República, aos direitos humanos e a construção de uma sociedade justa e igualitária”, disse o comunicado.
Ainda segundo a Polícia Civil (PC), 1.272 casos de violência racial foram registrados na Bahia entre janeiro e outubro do ano passado. Foram 780 registros de injúria racial e 492 de racismo. Os dados fechados do ano ainda são analisados.
Nota da Rede Mater Dei
“A Rede Mater Dei de Saúde informa a demissão da gerente de operações do Hospital Mater Dei Salvador, Camilla Ferraz Barros, em decorrência de atos amplamente divulgados nas redes sociais.
Após uma sindicância interna que envolveu a diretoria, o setor jurídico e compliance, a decisão foi comunicada neste domingo (5). A Rede Mater Dei de Saúde não tolera qualquer ato discriminatório por parte de seus integrantes e reafirma seu compromisso com a igualdade e a inclusão.
Comprometida com seus valores, a Rede Mater Dei de Saúde mantém uma postura firme contra todas as formas de discriminação, incluindo racismo, etarismo, homofobia e bullying. A Rede Mater Dei continuará a promover uma sociedade mais justa e inclusiva.”